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PAZ
04.01.2007

Paz, palavra diminuta, exprime pensamento prolixo, profundo e crucial para o homem. Comum em textos religiosos, documentos oficiais, plataformas políticas, discursos e mensagens individuais, é muito mais escrita e pronunciada do que vivida. Esteja onde estiver, preso à circunstância que for, o vocábulo paz tem significado indizível, extraordinário, tanto no âmbito pessoal, quanto nas inter-relações humanas, das mais íntimas e particulares às mais amplas possíveis. O significado é maior quando implica em paz de espírito, paz na consciência, ou sentimento de harmonia com Deus, com a vida e com o mundo. O oposto dá lugar ao desespero, à angústia e à crise de culpa, que podem levar a gestos extremos, tal qual o exemplar e histórico episódio do suicídio de Judas. Justiça, liberdade e paz no mundo constituem os fundamentos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela ONU, em 1948. A paz está em todas as constituições, é defendida em prosa e cantada em verso, mas, a cada dia, parece se tornar mais expressão de retórica, distante da realidade. Seriam o egoísmo, a ambição e a agressividade inerentes aos seres humanos e, portanto, causadores da violência quase generalizada? Acreditamos, todavia, nas virtudes superando os pecados, nos bons vencendo os maus, no amor acima do ódio. Em meio a tanta miséria e injustiças, a tantas mortes violentas e tantas guerras, parece-nos que o homem nunca esteve tão carente de Deus. Jesus proclamou: “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz, para que a minha alegria esteja em vós e seja perfeita a vossa alegria”. Por que a humanidade não O escuta? A paz predomina quando não somente se apregoa mas também se pratica a igualdade de direitos. No Brasil, poderemos obter a paz social somente combatendo a violência urbana e o crime organizado, aumentando o efetivo policial e dando-lhe mais treinamento e armas? O correto é identificar as causas e corrigi-las. Por que não levar todas as crianças e adolescentes para a escola, atendendo-os nas suas diversas fases de desenvolvimento por estrutura pedagógica de qualidade? Seria plantar hoje a semente da frondosa árvore de paz no amanhã. A educação é capaz de promover a emancipação da pessoa humana, levando-a à solidariedade, à conscientização de direitos e deveres e ao entendimento entre cidadãos. Em 1993, Paulo Freire, o homem da educação dialógica e libertadora, foi candidato ao Nobel da Paz; não escolhido porque o Comitê privilegiou as “políticas contra as guerras”. Perdeu o Brasil, mas sobretudo, perdeu-se uma grande oportunidade de se reconhecer a educação como o mais relevante fator de mudança e de paz social. O jornal Folha de S. Paulo, recentemente, publicou artigo que é brado firme e brilhante em prol da paz universal, de autoria do maior constitucionalista brasileiro da atualidade, Professor Paulo Bonavides. Em “O direito à paz”, Paulo Bonavides recorre, no início, às idéias dos filósofos da liberdade, Rousseau e Kant. Diz que a paz passa à categoria de direito positivo e adverte para a responsabilidade dos dirigentes que a fizerem soçobrar, os quais irão responder perante o tribunal das nações; e assevera que a guerra é um crime e a paz é um direito. O Professor, ao concluir, propugna pela “... mais inderrogável cláusula do contrato social: o direito à paz, como supremo direito da humanidade”.

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