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"A história do mundo em 100 objetos" é um livro singular, com 781 páginas, escrito por Neil MacGregor, Diretor do British Museum, e publicado no Brasil pela Intrínseca, em 2013. Os museus têm a missão de preservar o passado, para que melhor se entenda o caminho percorrido pelo homem através do tempo, nas diversas civilizações. Criado em 1753, o British Museum reúne um acervo fantástico de objetos coletados de todas as partes do planeta, o que o credencia como um dos melhores do mundo. Em 2010, o Museu e a Rádio 4, da BBC, fizeram um programa para divulgar uma pequena parte do acervo, mas que tivesse o condão de juntar as peças representativas da experiência humana, desde dois milhões de anos atrás até os dias atuais. A partir desse programa, MacGregor resolveu escrever essa obra, a qual se sobrepõe à produção da Rádio 4 BBC, pois a ótima descrição de fatos e de objetos se completa com belas ilustrações.
Uma história ideal é formada de textos e objetos, mas, em alguns capítulos do livro, isto se prova ser impossível, conforme diz o próprio autor. Como exemplo, ele cita o capítulo 89, quando ocorre o primeiro encontro entre o capitão Cook e os aborígenes australianos. Dos ingleses, ficaram relatos científicos e o diário de bordo do capitão sobre aquele fatídico dia. Porém, dos aborígenes restou apenas um escudo de madeira deixado para trás por um homem em fuga, por conta do pânico causado por um tiro de arma de fogo. O autor, então, conclui: “Se quisermos reconstruir o que de fato aconteceu naquele dia, o escudo deve ser examinado e interpretado com a mesma profundidade e o mesmo rigor com que examinamos e interpretamos os relatos escritos". Como se sabe, quase sempre são os vitoriosos que escrevem a história, principalmente quando os vencidos foram alvos de conquistas. Nos contatos das sociedades letradas com as não letradas, os relatos escritos são somente uma parte da verdade; a outra parte deve ser buscada na leitura que se faça dos objetos.
Preferi uma leitura intercalada desse livro, pois senti se tornar cansativo ao tentar ler da primeira à última página. Vez por outra volto à leitura, quando faço a escolha do assunto porque já conheço, ou por alguma outra afinidade. O capítulo 33 fala da famosa Pedra de Roseta, oriunda do reinado de Ptolomeu V, no Egito – 205 a.C. –, encontrada em El-Rashid, no Egito, em 196 a.C. Neil MacGregor diz que este é o objeto mais popular do British Museum, até mesmo ao se comparar com as múmias. Refere-se a suas andanças pelo Museu, quando sempre encontra um bom grupo de visitantes, ao redor da Pedra. Pode até mesmo ser que eu, certo dia, tenha sido uma daquelas pessoas, durante visita que fiz ao British Museum, alguns anos atrás.
A Pedra de Roseta é um bloco de granito, com 114,4 cm de altura, 72,3 cm de largura e 27,9 cm de espessura. Ela traz as mesmas inscrições em três línguas diferentes: o grego clássico, de uso oficial, a escrita demótica, usada pelo povo e os hieróglifos egípcios. Porém, ainda existe uma quarta língua, pois, na face quebrada da Pedra, está escrito em inglês: “Tomada no Egito pelo exército britânico, em 1801". De fato, em 1798, as forças de Napoleão invadiram o Egito, mas, três anos depois, foram derrotadas pelos ingleses, na Batalha do Nilo. Os termos do Tratado de Alexandria exigiram a entrega de antiguidades, entre elas a Pedra de Roseta. Esse pedaço de granito quebrado remete à época dos reis gregos de Alexandria, depois que Alexandre, o Grande, invadiu o Egito; à longa disputa entre franceses e britânicos, e à mais famosa decifração que se tem notícia – a dos hieróglifos. Um objeto simples guarda importante resgate de um tempo histórico.
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