Pirangi, ontem e hoje - Centro Universitário do Rio Grande do Norte - UNI-RN
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Pirangi, ontem e hoje

Quando construí a casa na praia de Pirangi do Norte, cerca de 40 anos atrás, era tudo muito diferente dos dias atuais, a começar pelo meu núcleo familiar – mulher e filhos – ainda composto por poucas pessoas. Comprei o terreno em local alto no topo de uma duna, na 1ª rua projetada depois da beira-mar. Antes da construção, precisei melhorar o acesso e nivelar o terreno. Apesar da grande oferta de terrenos à beira-mar, à época, optei por uma área mais alta, a fim de usufruir de uma visão privilegiada e de uma aragem mais constante. E assim foi durante vários anos, tendo à disposição dos olhos um largo horizonte de mar, vendo e ouvindo as ondas se quebrarem nas margens, além de não saber o que era calor ou barulho, nem os incômodos de vento em excesso; para dormir, não precisava de ventilador ou ar-condicionado. Ao longe, gostava de ver os navios que passavam, ou os pontos brancos de alguns barquinhos a vela, e, perto da areia, as puxadas das redes de arrastão, pesadas de tanta tainha.

Porém, pouco a pouco, construções foram surgindo, e barreiras de tijolo, cal e cimento tomavam o lugar dos espaços livres e da larga visão verde-azul do mar. Sem pausas, surgia uma construção aqui outra acolá, crescia uma árvore grande – coqueiros, mangueiras, cajueiros, palmeiras, e outros – em pontos diversos, para a alegria dos seus donos, e para a frustração dos que perdiam a chance de ver a beleza maior, que só a natureza faculta de forma gratuita e ampla. Para compensar, multiplicavam-se as árvores na praia de Pirangi do Norte, e o verde das folhagens supria, em parte, o deleite de ver a ribalta natural com as ondulações das águas do mar.

Diz o saber popular que não há um mal que não traga um bem, e, no caso, isso se comprova, pois as novas árvores trouxeram uma maior população dos príncipes e princesas alados, os pássaros em profusão que voam felizes no céu de Pirangi. Já expressei, em crônica anterior, o meu especial apreço pelos pássaros que, graças a Deus, povoam o meu dia a dia, seja no local de trabalho, o campus do UNI-RN, seja nas casas nas quais vivo, em Natal e em Pirangi do Norte.

Há cerca de 10 anos, construí um apartamento no quintal da vivenda de Pirangi, pois filhos e netos, numerosos, além do velho casal, na antiga casa, já não tinham o conforto merecido. Fiz também a média com minha mulher, Ana Maria, e dei o nome de Solarana ao novo anexo. Do terraço desse anexo, no primeiro andar, tem-se uma visão com menos bloqueios, para a amplidão do mar. É daqui, desse ótimo lugar, que escrevo esta crônica, no último dia do veraneio 2015, do qual usufruí apenas os fins de semana. Há muitas maneiras de lazer nesses dias de verão na praia de Pirangi do Norte: banhos de mar, sol, caminhadas, boas conversas, festas, drinques, a mesa farta, a bela música – não a agressão dos paredões de som –, enfim, um leque amplo de relaxe. De minha parte, optei por algo mais singelo, afora o convívio mais próximo com filhos e netos: a leitura de uma boa escrita. A exemplo de um deficiente visual que aguça a audição, tento – e consigo – ouvir melhor o som calmante das ondas do mar. Vivi também outra prática simples, prosaica, ao conviver com um casal de bem-te-vi que fez o ninho em um seguro lugar perto do terraço. Despeço-me deles com saudade e pensando o quanto são felizes essas voantes e lindas criaturas de Deus.


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