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Portugal, mais uma vez
14.01.2010
Somente em duas cidades, Nova Cruz e Natal, estive presente nas mudanças de ano, exceto nesta passagem de 2009 para 2010, quando pude apreciar a beleza dos fogos de artifícios a clarear a noite de Lisboa. Assisti ao esplendor colorido no alto da cobertura do prédio onde mora o primo e amigo Ezequias Pegado Cortez, que lá estava com a mulher e os filhos. Beleza para os olhos e emoção para a alma, algo diferente, novo, com a visão do Parque das Nações e, ao longe, as lâmpadas em fila da ponte Vasco da Gama, sobre as águas do rio Tejo. Ezequias é um homem de talento e de coragem. Advogado vitorioso, expandiu seu ofício para a Europa. Comprou ótimo apartamento para morar, além de sala para o escritório na capital lusa. Hoje, ele divide seu trabalho advocatício entre Natal e Lisboa, e já pensa em obter a dupla cidadania.
Tivemos a chance de manter alegre conversa, eu e meu pequeno grupo familiar da viagem, com os nossos anfitriões daquela noite super-agradável. Ezequias, inteligente e observador perspicaz, relatou em detalhes desde a decisão de se instalar em Portugal até as nuances de como montou o apartamento e o escritório do jeito que queria, contando sempre com a ajuda da mulher, Ana Emília. Comparou as reações psicológicas entre brasileiros e portugueses, a maneira de raciocinar e de agir de ambos; disse que o brasileiro leva certa vantagem pela influência que recebeu de diversas culturas, enquanto o português é cartesiano, não busca muitas opções para a solução de problemas. Já listou catorze itens da forma de falar do povo português, estudo que vai enviar para seu cunhado, Murilo Melo Filho, e para Evanildo Bechara, os dois da Academia Brasileira de Letras. Ele pensa até mesmo em escrever um livro sobre toda essa vivência.
Visitar Portugal é, de fato, uma opção benfazeja. Por falar nisso, ensinaram-me, em uma loja, o nome de um protetor de terno, para usar em viagens: porta fato. Aliás, pode-se ler em uma vitrine “fatinhos de miúdos”, ou seja, roupinhas de crianças. O povo português é simpático e trata os brasileiros de forma cordial e até afetuosa, com raras exceções. Desta vez, além de Lisboa, revisitei Sintra, Évora e Fátima. Viajei de comboio (trem), de autocarro (ônibus) e de carro alugado, tudo com absoluto conforto e segurança. Foi a quarta visita ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima. No primeiro dia do ano, assisti à missa na nova igreja do Santuário, dedicada à Santíssima Trindade, um templo moderno, bonito e confortável, com capacidade para nove mil pessoas. Missa cantada, um momento raro de reflexão e de renovação da fé. Sintra é o encanto de sempre. Fui de comboio e, na volta, desci na estação da cidade de Queluz e caminhei para rever o Palácio que interessa à história do Brasil, a exemplo do quarto onde nasceu e morreu nosso D. Pedro I.
Enquanto boa parte da Europa tremia de frio intenso, Lisboa, “sempre formosa a sorrir”, ficava na faixa dos 10 a 18 graus. Além de ir a alguns dos lugares aonde quase sempre os turistas vão, desta vez pude conversar mais com os nativos e descontrair em boas caminhadas, em passeios nos eléctricos – bondes parecidos com os que existiram em Natal até os anos 1950 –, ou ao perambular na Feira da Ladra, uma espécie de mercado de pulgas legal e secular, onde comprei bons livros por preços ainda melhores. Um motorista de táxi, meio bonachão, contou-me que, certo dia, três brasileiras – tipo dondoca – insistiam em chamá-lo de moço, o que não lhe agradava. Lá pras tantas, dada a insistência das mulheres, ele respondeu: “Estou a escutar, raparigas”. Uma delas logo reagiu: raparigas não, olhe o respeito! Assim é Portugal, de povo alegre, bom e amigo, fonte maior da identidade do nosso Brasil.
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