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Portugal, mais uma vez (2)
11.02.2010
Em Lisboa, entrei em uma loja para comprar um sobretudo. Antes de provar, tentei tirar o casaco de couro que vestia, quando a jovem que me atendeu assim falou: “Não precisa, pois o nome já está a dizer, é sobretudo!” Ri meio sem graça e não fiz a compra, porque não me agradei da peça (de roupa). Em outra loja, deu-se o contrário, a jovem pediu para que eu tirasse o casaco antes de provar e, então, foi a vez de me vingar, ao repetir a frase ouvida na primeira loja, tentando seguir o modo nativo de falar. Desta feita, não foi meu o riso meio sem graça. Em Sintra, caminhei do centro histórico, onde está o Palácio Nacional, até a estação de trem, já no setor mais moderno da cidade. No percurso, passa-se por belas esculturas que se harmonizam com as paisagens, ainda mais belas. “Pari passu”, ia um turista bem equipado que fazia fotos de todas as esculturas e não parava de repetir, como se falasse para ele mesmo: "Très joli, très joli...” Essas palavras ficaram na minha mente e não existem outras melhores para relembrar a beleza de Sintra.
De Lisboa, saí de ônibus para Évora, a partir da estação Santa Apolônia, cerca de uma hora e meia de viagem em autoestrada. Vejam o que diz o escritor Manoel Onofre Júnior, em seu livro Portugal – Portão de Embarque II: “O encanto dessa cidade começa no nome: Évora. Reparem a beleza de sons: Évora! Parece nome de flor. Imagino um alegre canteiro de évoras...” Aliás, os nomes de muitas cidades e regiões lusitanas são por demais bonitos e sonoros, a começar pelo próprio país, Portugal: Sintra, Lisboa, Évora, Aveiro, Queluz, Coimbra, Viseu, Setúbal, Póvoa de Varzim, esta última a terra natal de Eça de Queiroz. Foi a segunda visita que fiz a Évora – espero ainda voltar lá –, capital do Alentejo, região calma e produtora de bons azeites e de excelentes vinhos, além da carne de porco e dos famosos queijos de leite de ovelha. Considerada Patrimônio Mundial pela Unesco, a cidade é não somente o maior registro da presença romana em Portugal, como mostra também a marca dos árabes no passado nesta região lusa. Caminhei pelas ruas estreitas e sem calçadas, admirei as muralhas, os edifícios góticos, os gradis das portas e janelas, as arcadas seculares; visitei a Sé, a Igreja de São Francisco, a Capela dos Ossos e o vetusto Templo de Diana, com as catorze colunas e seus capitéis, plena evocação à antiga Roma. Na Praça do Giraldo, para onde tudo e todos convergem, meio à toa entrei em uma loja de roupas. Recebeu-me um português simpático, comerciante alegre que logo me trouxe à lembrança meu querido pai, vendedor de tecidos em Nova Cruz–RN. A mim e ao meu pequeno grupo de viagem, apresentou a mulher, a filha e o genro que também trabalhavam na sua loja, a qual tinha o nome de Cunha. Não demorou para chegarmos à conclusão de que ancestrais comuns tivessem levado a família Cunha para o Brasil. Visitei o Museu de Évora: grata surpresa, porquanto as coleções arqueológicas e o rico acervo de pinturas dos séculos XV ao XVIII estão a merecer mais atenção, pois vi poucas pessoas dentro do Museu, em comparação com a demanda do turismo na cidade.
Desta vez, não entrei em uma casa de fados; segui o conselho de Manoel Onofre Júnior: o fado não é dança, portanto, ouvir é o bastante. Assim, comprei um álbum de Amália Rodrigues, com quatro CDs, na lojinha do Panteão, em Lisboa, onde repousam os restos mortais dessa notável cantora de fados. Em meio a uma conversa com um lisboeta que conheço há vários anos, perguntei-lhe sobre as velhas intrigas entre Portugal e Espanha. Respondeu-me que isto já não existe, são coisas do passado, mas, com um sorriso maroto, relembrou antiga frase: “De Espanha não vem bom vento, nem bom casamento, pois, pois”.
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