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O quadro O Triunfo da Morte encontra-se no Museu do Prado, em Madri-Espanha, pintado por volta de 1562, pelo artista flamengo Pieter Bruegel, o Velho. Essa alcunha, o Velho, passou a uso corrente para distingui-lo do seu primogênito. Nasceu em Breda, nos Países Baixos, em 1525, e faleceu em Bruxelas, Bélgica, a 09 de setembro de 1569. Destacou-se por suas retratações de paisagens, numa época em que ganhava projeção as cenas religiosas. Sua obra de maior renome é O Triunfo da Morte, na qual Bruegel retrata a vitória da Morte sobre todas as coisas mundanas, sem distinguir qualquer condição. Até o rei surge na cena, a entregar o cetro e a coroa nas mãos da morte. O quadro foi produzido quando as pestes se alastravam sem controle, e as guerras eram constantes e frequentes.
Por vezes, é a vida que imita a arte, outras vezes ocorre o oposto. No caso dessa obra, penso que a arte imitou a vida, a fim de retratar toda a crueza da morte, a ponto de causar impacto, pelo forte realismo que expressa. Uma obra produzida quase 500 anos atrás suscita alguma correlação com o enorme número de mortes pela Covid-19 em todo o mundo? Aquelas cenas de profunda tristeza que vimos na TV, as covas abertas em série, os veículos frigoríficos parados nas portas dos hospitais, relembram o quadro O Triunfo da Morte? Penso que sim, até como alerta de que nós seres humanos continuamos frágeis, apesar de todos os avanços, e que a terrível pandemia pelo novo coronavírus persiste ativa, ainda sem um tratamento globalmente aceito, e sem vacina para proteger contra novos contágios. Restam-nos o isolamento social, o uso de máscaras e a higiene pessoal, até que venham as mudanças por todos esperadas.
Em algum lugar, li que as liturgias das grandes epidemias são sempre muito parecidas. As reações dos líderes, as crendices populares, o medo geral, muito se assemelham, apesar das épocas tão distintas. Ainda hoje, falamos em quarentena, que surgiu em Veneza, durante a Peste Negra do século XIV. Um membro do clero sugeriu a restrição de circulação de pessoas, e escolheu 40 dias, conforme o Velho Testamento falava em relação ao isolamento em casos de lepra, e assim ficou até hoje. Durante a Peste Bubônica, séculos atrás, as pessoas também se mantinham em casa, para não se contaminarem com os miasmas, que, na verdade, era a podridão vinda das ruas. Porém, as infecções se faziam pelas pulgas dos ratos, que infestavam as vias públicas, onde se jogavam os dejetos humanos. Quem não leu ou não ouviu a expressão de que a atual pandemia é um castigo divino? Pois bem, esse mesmo temor já existia nas pandemias da Idade Média. Mas as crendices e as receitas caseiras podem também trazer benesses. Segundo consta, na Gripe de 1918, em São Paulo, espalhou-se que a mistura de mel, limão e cachaça curava a virose. Estava criada, então, a bendita caipirinha.
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Publicado no edição desta quinta-feira (20/08/2020) do jornal Tribuna do Norte
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