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“Shakespeare parece tudo saber e tudo expressar sobre o ser humano.” Essa frase é do escritor e crítico literário, de âmbito mundial, George Steiner, em seu livro Nenhuma Paixão Desperdiçada – 2018. No capítulo em que comenta a obra literária de Shakespeare, ele mostra não ser unânime a reverência ao autor de Hamlet, e cita nomes de famosos escritores que fizeram certas restrições ao valor do legado cultural do gênio inglês. Entre esses nomes, surge Samuel Johnson (1709 – 1784), para quem Shakespeare era, no elenco dos escritores ingleses, primus inter pares, porém, “o cânone que ele deixou tinha defeitos óbvios.” Steiner revela que, no período entre 1780 e 1830, cresceu a “adoração” à obra do autor de Romeu e Julieta, e se reporta ao reitor da Universidade de Glasgow, Thomas Campbell, como provável inventor do termo “bardolatria.” Apesar do registro histórico de alguns opostos, haja vista Tolstói e T. S. Eliot, o culto ao bardo de Stratford-upon-Avon se expandiu e chegou ao extremo, a exemplo de Victor Hugo que percebeu em Shakespeare uma força cósmica, uma inspiração absoluta, em tudo comparável à que emana do Livro de Jó e dos Profetas. Ou como proferiu Goethe: “Com Shakespeare não se chega ao fim.”
Em dias recentes, três notícias fizeram-me relembrar da obra Romeu e Julieta. Começo com a morte do grande cineasta italiano Franco Zeffirelli, aos 96 anos, em Roma, onde morava. Fazia parte de um grupo de escol, surgido na Itália após a Segunda Guerra Mundial, de grandes diretores de cinema, formado, além de Zeffirelli, por Frederico Fellini, Luchino Visconti e Vittorio De Sica. Ele era o sobrevivente do grupo. Nascido em Florença, estreiou na obra de Shakespeare em 1967, com a Megera Domada, estrelado por Richard Burton e Elizabeth Taylor, e, logo em seguida, 1968, consagrou-se ao dirigir Romeu e Julieta, sucesso de crítica e de público, a mais inspirada versão dessa famosa tragédia lírica. Mais de duas décadas depois, voltou à obra do bardo inglês, ao dirigir Hamlet, tendo no elenco Mel Gibson e Glenn Close.
Outra notícia de estreita ligação com a cultura shakespeariana versa sobre o Club de Julieta, com sede em Verona, na Itália, cidade que fulgura no enredo de Romeu e Julieta, padrão do perfeito amor juvenil, peça escrita entre 1591 e 1595, baseada em um conto de origem italiana. O jornal Folha de S. Paulo, edição de 12 de junho de 2019, publica boa matéria sobre o assunto, inclusive com resumos de algumas cartas de histórias de amor, umas de sucesso e outras de frustrações. A cada ano, cerca de 8.000 cartas chegam ao clube, em Verona, onde brasileiras voluntárias colaboram no tocante às mensagens em português.
Para completar essa série de eventos capazes de resgatar a lembrança de Romeu e Julieta, obra que une o amor lírico e a tragédia humana, relembro o tríplice assassinato ocorrido na cidade de São Paulo, quando um homem, cheio de terrível fúria, tirou a vida do namorado da sua filha e, ao prosseguir na ferócia, matou o pai e a mãe do sereno e cordial rapaz. Essa comparação mostra a grandeza da obra de Shakespeare, que abrange, de forma atemporal, as mais diversas nuances da alma humana. Mais de 400 anos depois da criação de Romeu e Julieta, um crime no Brasil nasce a partir do puro amor de um jovem casal e termina em tragédia envolta no ódio de perfil familiar.
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