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Em Nova Cruz, no final da década de 1940, várias crianças mantinham-se curiosas sobre o Código Morse, usado na sede dos Correios, para transmitir e receber telegramas, e na estação do trem, para permitir o controle de idas e vindas das máquinas e vagões sobre os trilhos. Dizia-se que os operadores dos pequenos instrumentos do Código Morse podiam obter ótimos ganhos, daí o interesse por essa bem-vista profissão. Eu mesmo, com um protótipo desses instrumentos – tomei de empréstimo a um amigo –, tentei me tornar um hábil operador daquele meio de comunicação, mas não tive o menor sucesso. Essa linguagem, já obsoleta, se baseia na combinação de um ponto e um traço, transmitidos por pulsos ou sons, através de um fio.
Minhas lembranças de instantes vividos sete décadas atrás ocorrem por conta de leitura que fiz da crônica Distância, contida no livro “O palácio da memória”, de Nate Dimeo, lançado no Brasil em 2017, pela editora Todavia. Com textos curtos, o autor revela fatos inusitados da vida de pessoas comuns ou famosas por meio da arte de contar boas histórias, as quais ficam gravadas na mente do leitor. A crônica Distância se detém em fatos importantes da vida do pintor Samuel Finley Breese Morse (1791-1872). Ele passou os primeiros 25 anos de vida somente voltado para a pintura. Frequentou escolas de artes em Yale e em Londres, na Royal Academy of Arts. Estudou as obras dos grandes mestres, a exemplo de Michelangelo e de Rafael. Em 1825, Samuel Morse morava em New Haven, no estado de Connecticut – Estados Unidos –, com sua esposa Lucretia, dois filhos pequenos e um terceiro a caminho.
Poucos dias antes do seu terceiro filho nascer, Morse recebeu um mensageiro com uma carta: a prefeitura de Nova York queria pagar mil dólares para ele pintar um retrato do marquês de Lafayette, que viria a Washington para a celebração dos 50 anos da Guerra da Independência e, assim, poderia posar para o artista. Lafayette, um militar francês, lutou na Guerra da Independência dos Estados Unidos, ao lado de George Washington. Naquela mesma noite, Morse embrulhou cavalete, pincéis e tintas, escolheu a melhor roupa, beijou a mulher grávida e os filhos, e logo começou a viagem no rumo da capital do país.
Uma semana depois, Morse estava em casa alugada em Washington, pronto para encontrar seu famoso modelo, no dia seguinte. Então, recebe um portador que lhe entregou uma carta com sucinta mensagem: “Esposa mal após o parto”. Ele deixa tudo e parte de volta ao lar, enfrenta frio e chuva, segue a pé, a cavalo e em carroças. Quando chegou a New Haven, sua esposa já estava sepultada. Aquela tão forte e triste emoção, talvez certo remorso, fizeram o pintor Samuel Morse se dedicar à busca de um método de rápida comunicação, capaz de vencer longas distâncias. Ele fixou o seu nome ao Código Morse, invenção sua no afã de evitar que outras pessoas passassem por dramas semelhante ao dele, naquela sinistra viagem a Washington.
Em tempo: Muito usado no âmbito naval, a Marinha francesa, em 1997, despediu-se do Código Morse com essa mensagem: “Chamando todos. Este é o último grito antes do nosso silêncio eterno”. Isto lembra o recente sumiço do submarino argentino ARA San Juan.
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
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