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Samuel Luke Fildes (1843-1927) é um famoso artista inglês, muito presente nos estudos que fazem a conexão entre a arte e a medicina, devido à tela The Doctor, que ele pintou em 1891. Nesse quadro, chama a atenção a atitude do médico, a meditar diante de uma criança enferma, absorto e triste por não poder salvar a vida da menina à sua frente. O claro/escuro do quadro ressalta a dor e o desalento que domina o ambiente familiar. Um foco de luz sai de um lampião e clareia o semblante do médico e a face da criança prostrada, vendo-se ao fundo a mãe e o pai desolados. A tela impressiona pela força da cena médica vivida em ambiente familiar, conforme a prática da profissão em épocas passadas. Trata-se de uma das “representações mais conhecidas e mais tocantes da medicina”. A tela foi produzida em honras a um certo Dr. Murray, que atendeu, em casa, o filho primogênito do próprio Samuel Luke Fildes, o qual faleceu na manhã do Natal de 1877. A tela The Doctor integra o acervo da magistral Tate Galery, de Londres, que, alguns anos atrás, tive a feliz chance de visitá-la. Uma boa cópia dessa tela ou uma visão via internet pode – e até deve – ser vista. Porém, não é a mesma emoção de estar defronte ao original, e já incluí nos meus planos de viagem uma visita “ao vivo” da obra e da galeria em apreço.
A tela The Doctor leva-nos a refletir sobre o exercício atual da profissão médica. Muito tempo já se passou desde que o artista deu vida ao quadro, mas as fortes expressões que a obra transmite a respeito da relação médico-paciente são capazes de resgatar esse sentimento profundo que persiste entre os seres humanos na busca da cura de uma doença. A obra foi criada há mais de cem anos, dentro de um contexto médico-social totalmente diverso de hoje, mas a conjunção do ideal de curar e da ânsia de ser curado é algo perene, vence o tempo e as mudanças externas. Assim sendo, essa obra também é perene em significados.
De fato, nos dias atuais, a classe médica, como um todo, tem sido vítima de distorções no seio da sociedade. Sempre sob pressão, premido a trabalhar à exaustão a fim de obter remuneração condigna, o médico se estressa e se esforça para exercer a profissão dentro dos princípios éticos e humanísticos, embora possa haver raras exceções. Parto do princípio de que, quando uma pessoa jovem escolhe a medicina, ele ou ela já demonstra a sua opção de ser útil e de fazer o bem ao próximo, naquilo que é sagrado para qualquer médico, ou seja, na preservação da saúde e no combate às doenças, à dor e ao sofrimento humano. Expando esse meu pensamento também para as outras profissões da área da saúde.
Em seu livro O Médico, o escritor e pensador Rubem Alves inspirou-se na tela The Doctor para escrever essa pequena-grande obra, na qual afirma: “Amei esse quadro pela primeira vez que o vi. Talvez ele seja a razão por que, quando jovem, sonhei em ser médico”. Ainda em alusão ao quadro, ele aduz: “Amamos o médico não pelo seu saber, não pelo seu poder, mas pela solidariedade humana que se revela na sua espera meditativa”.
Dedico esta crônica ao meu neto Thiago Santos Cunha Lima, que escolheu ser médico, e ingressou, há poucos dias, no curso de medicina, sob os aplausos e a emoção do avô.
Daladier Pessoa Cunha LimaAumentar fonte ("CTRL" + " + ") ou ("COMMAND" + " + ")
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