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Em uma crônica passada, sob o título Júlia, a mãe de Thomas Mann, escrevi que esse grande escritor criou para o Brasil a alcunha de terra mátria. Em 1943, Thomas Mann, ferrenho opositor ao nazismo, morava na Califórnia, exilado, quando enviou uma carta a Karl Lustig-Prean, intelectual austríaco incansável no combate à ideologia de Hitler, na qual fala do seu sangue latino-americano e, pela primeira vez, explica a alcunha dada ao Brasil: “A perda da minha terra pátria (mein Vaterland) deveria constituir uma razão a mais para que eu conhecesse minha terra mátria (mein Mutterland). Ainda chegará essa hora, espero”. Essa expressão de Thomas Mann, além do apelo afetivo em relação ao país onde nascera sua mãe, Júlia, tinha também uma conotação política, no tocante ao desgosto com a sua terra de origem, a Alemanha, à época, ainda sob o jugo hitlerista. Thomas Mann, sua esposa, Kátia, e seus filhos perderam a cidadania alemã, desde dezembro de 1936.
No posfácio do livro A Montanha Mágica, edição da Companhia das Letras (2016), o autor do texto, Paulo Astor Soethe, professor da UFPR, grande estudioso da obra de Thomas Mann e de Heinrich Mann, afirma que, na Alemanha, a família Mann tem para o país a mesma significância que os Kennedy têm para os Estados Unidos, e os Windsor para a Inglaterra. E acrescenta: “Desde a reunificação alemã, com fases menos e mais intensas, há naquele país o que a imprensa chama de mannomania”. De fato, entre os maiores escritores europeus do século 20, estão os irmãos Henrich Mann (1871-1950) e Thomas Mann (1875-1955), além de outros membros do clã que se destacam em alguma área da ciência, das artes e das letras. Dos descendentes desses famosos nomes das letras, apresso-me em destacar o escritor Frido Mann, neto de Thomas, não somente pelo mérito literário, mas também pelo seu constante contato com o Brasil, desde a década de 1990. Em julho passado, Frido completou 80 anos, nasceu e reside nos Estados Unidos, onde é professor e escritor. Quando ele nasceu, Thomas Mann morava em Princeton e escreveu em seu diário: “O primeiro neto, americano de nascimento, tem sangue alemão, brasileiro, judeu e suíço, o último por parte da minha avó.”
Thomas Mann exilou-se por muitos anos e, somente em 1944, tornou-se cidadão norte-americano. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1929 e, desde esse tempo, em face do crescimento do nacional-socialismo na Alemanha, já pensava no exílio, o que se efetivou a partir de 1933 – jamais voltou a residir em seu país de nascença –, com estadas na Lituânia, Suíça, França e Estados Unidos, com ênfase na América. Thomas Mann, em certa fase da vida, rejeitou a sociedade burguesa alemã, e passou a se sentir um estrangeiro em sua própria nação. Seus ideais cosmopolitas condizem com um perfil humano de preclaro cidadão do mundo.
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Artigo publicado na edição desta quinta-feira (17/09/2020) do jornal Tribuna do Norte
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