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Tragédia na Universidade
25.02.2010
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor da FARN
Semelhante a qualquer outro grupo social, a convivência no meio acadêmico, muitas vezes, não é tão calma, principalmente em grandes instituições. O próprio debate das ideias, natural das lides universitárias, gera conflitos; porém a paz é o caminho, o destino, obtida pelo consenso ou pela ruptura total. O aparente caos que os conflitos podem deflagrar termina por se transformar na melhor maneira para se alcançar a melhor solução. Até aí, tudo bem, mas as coisas desandam quando surgem agressões pessoais, condição não rara de ocorrer.
Ao longo da minha vivência acadêmica, assisti a vários entreveros entre colegas docentes, entre aluno e professor, entre os próprios alunos ou envolvendo outras pessoas do campus. Tudo piora quando existem questões que incluem dinheiro ou que tocam a vaidade pessoal. Durante certo tempo, em virtude do processo de democratização das universidades federais, era comum ver candidatos a cargos administrativos – ou seus adeptos – agredirem com palavras os oponentes. Esse tempo passou, e as disputas, agora, restringem-se aos planos de trabalho, sob a égide do respeito mútuo e da dignidade dos cargos. Poucos anos depois de formado, fui fazer curso de pós-graduação na USP, em São Paulo. Fiquei perplexo ao ver a tensão emocional entre dois ilustres professores, os mais destacados na especialidade no âmbito nacional, os quais disputavam a função de titular da Disciplina. Eles, homens cultos e médicos renomados, negavam-se até ao bom-dia protocolar e eram ferinos um com o outro. No período de mais de trinta anos no íntimo da UFRN, presenciei muitas querelas – até mesmo me envolvi em algumas –, assisti ofensas verbais e físicas, tomei partido quando devia tomar, fiz o papel de apaziguador, agi com paciência e tolerância, mas também com severidade em certos casos. Na condição de gestor acadêmico, enfrentei embates mais sérios, ou me vi diante de decisões cruciais para a vida de várias pessoas. Penso que acertei mais do que errei, bem como, no labor do dia a dia, tive de perdoar e de ser perdoado.
As discussões nos departamentos acadêmicos podem levar a momentos tensos, com ênfase quando afloram hostilidades pessoais, ou quando as vaidades, tão próprias do ambiente, borbulham por todos os lados. Porém, nunca tinha ouvido falar em algo semelhante ao que ocorreu, há poucos dias, no Departamento de Biologia da Universidade do Alabama, em Huntsville, nos Estados Unidos. O Professor Gopi Podila, chefe do Departamento, estava reunido com seus pares em uma sala, para a tomada de decisões administrativas. O grupo foi surpreendido com a entrada súbita da Professora Amy Bishop, que não tivera sucesso no seu recente pleito de promoção ao posto de professor com emprego estável. De repente, Bishop sacou uma arma e passou a atirar contra seus colegas. Primeiro, acertou a cabeça do Chefe do Departamento, e seguiu a ordem em que as pessoas estavam sentadas, alvejando um a um. Seis pessoas foram feridas, das quais três morreram, inclusive o Professor Gopi Podila. A assassina ainda perseguiu outros colegas que correram e por pouco escaparam. Aquela reunião de rotina, entre homens e mulheres dedicados ao saber, teve um final trágico, fruto da ferócia de um ser humano, que uma frustração da carreira acadêmica foi capaz de despertar. É algo quase inimaginável, mormente ao se olhar o currículo de Amy Bishop, graduada na Universidade Northwestern e doutora pela Universidade Harvard. Na história dela, porém, consta que matou um irmão, em 1986, mas logrou absolvição, porque o caso foi tido como um acidente. Assim, houve um passado a apontar para o futuro, o qual explodiu nessa tragédia na Universidade do Alabama.
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