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Tribuna do Norte destaca pesquisa da FARN
29.12.2008

ALIMENTAÇÃO - Maxson Janailson é estudante de Nutrição e autor da pesquisa sobre agrotóxicos 28/12/2008 - Tribuna do Norte Wagner Lopes - Repórter Uma pesquisa realizada pelo estudante de Nutrição da Farn, Maxson Janailson dos Santos, como parte de seu trabalho de conclusão de curso, detectou uma concentração de agrotóxicos acima da permitida em cinco dos alimentos mais comercializados em Natal: banana, maçã, mamão, tomate e alface. O resultado serve de alerta para os consumidores e também para o poder público, uma vez que atualmente não há fiscalização sobre esse tipo de contaminantes no Estado. “Uma das maiores dificuldades que tivemos ao realizar essa pesquisa foi exatamente o fato de que não pudemos comparar os resultados, uma vez que não há aqui nenhum material relacionado à análise de pesticidas em alimentos”, lamenta o futuro nutricionista. Em seu estudo, por questões técnicas, foram levados em conta apenas três agrotóxicos (Lannate, Decis e Vertimec) e em praticamente todas as amostras de alimentos a concentração encontrada ficou além dos limites estipulados pela legislação. Em muitos casos, aliás, os pesticidas foram encontrados mesmo em frutas e hortaliças nos quais não deveriam sequer ser aplicados, mesmo que em concentrações mínimas. Já naqueles em cuja plantação o uso do agrotóxico era permitida, a concentração ficou em alguns casos várias vezes acima do limite. O mesmo ocorreu quando eram utilizadas amostras devidamente higienizadas. “O processo de higienização por algumas vezes reduziu a zero a contaminação, mas em outras diminuiu apenas pela metade, não tornando os alimentos livres do agrotóxico”, explica. Maxson Janailson lembra que, se ingeridos continuamente acima do limite máximo diário aceitável, essas substâncias podem causar ou agravar doenças, conforme as condições de saúde e estilo de vida de cada pessoa. Dentre esses males, estão problemas no sistema nervoso central, no fígado e até mesmo o câncer. “Por isso mesmo seria fundamental que os agricultores seguissem e os órgãos responsáveis como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e Ministério da Agricultura fiscalizassem melhor as boas práticas agrícolas”, defende. Ele lamenta, contudo, que o Rio Grande do Norte não esteja sequer incluído no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Para). Esse levantamento, atualmente, é realizado com a participação das coordenações de Vigilância Sanitária dos Estados do Acre, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins, e também dos municípios de Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo. Os resultados “insatisfatórios” em nível nacional têm incluído, assim como no estudo local, tanto concentrações acima das permitidas, quanto presença de agrotóxicos não autorizados para determinadas culturas. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou ouvir o escritório local da Anvisa, porém a coordenadora de Vigilância Sanitária de Portos, Aeroportos e Fronteiras se encontrava em recesso. Plantações poderiam ser diferencial Os prejuízos do uso excessivo de agrotóxicos atingem até mesmo quem comercializa os produtos. Isso porque o mercado de alimentos orgânicos, cujo principal chamariz é exatamente a não utilização desses pesticidas, vem crescendo. “Poderia ser um diferencial de nossos produtores o fato de comercializar frutas e hortaliças cultivadas sem agrotóxicos”, observa Maxson Janailson. No entanto, a realidade atualmente é outra. Na pesquisa realizada pelo estudante, constatou-se que a maior parte dos agrotóxicos comercializados em Natal (“A compra é facilitada, não exigem comprovantes de uso, ou mesmo do comprador.”) apresentam toxicidade alta e extremamente alta, ou seja, estão entre os mais danosos à saúde humana. Dentre os analisados pelo futuro nutricionista, a situação mais grave foi a do uso do Lannate, que de acordo com a legislação em vigor no país só poderia ser usado, dentre os alimentos pesquisados, na produção do tomate, e ainda assim em doses muito limitadas. Porém, resíduos foram detectados em todas as três frutas e nas duas hortaliças. Já dentre os alimentos, o que mais preocupou o estudioso, quanto às frutas, foi a forte presença de pesticidas na banana e, dentre as hortaliças, no alface. No caso da banana, foram registrados as maiores concentrações: 1,23 mg/Kg de Decis e 1,17 mg/Kg de Vertimec. Em ambos os casos, chama a atenção o fato de que esses agrotóxicos não poderiam sequer ser utilizados na produção dessa fruta. O mamão foi o que apresentou menores concentrações, porém ainda bem acima das permitidas. Revendedores apóiam as pesquisas Comerciante da Ceasa, Maria das Dores Campelo resume a situação dos revendedores de produtos agrícolas. “Nem sempre temos informação de como esses alimentos são produzidos, por isso mesmo às vezes alguns clientes nos perguntam se nesse produto foi usado esse ou aquele agrotóxico e não temos como garantir que sim, ou que não”, lamenta “Dona Dorinha”, como é mais conhecida. Ela afirma, porém, que o produtor que disser não usar agrotóxico em sua plantação está mentindo. “Uns usam mais, outros menos, mas todos usam”, aponta. Diante disso, a vendedora considera importante conhecer o melhor possível a origem dos alimentos, para que se possa transmitir ao comprador final alguma informação a respeito de como a fruta ou a verdura foi cultivada. Porém, isso nem sempre é fácil, uma vez que parte dos produtos comercializados na Ceasa vêm de outros Estados. “O ideal mesmo, e que seria muito bom para nós, é que isso já viesse escrito na embalagem, nas caixas. Assim a gente ia ter como dizer ao cliente o que tem e o que não tem ali”, destaca. Dona Dorinha lembra, inclusive, que isso poderia aumentar as vendas, já que a preocupação com a saúde é cada vez maior e frutas e hortaliças estão entre os produtos mais indicados para quem pretende ter uma vida saudável. Também comerciante, Valéria Costa ressalta que conhecer o produtor é fundamental, para se ter uma boa noção de como aquele alimento foi produzido. “Dou preferência a produtores conhecidos, pois sei que trazem um produto de qualidade”, diz. Ela lamenta, contudo, que não haja atualmente, de parte do poder público, nenhum controle a respeito. “Ninguém fiscaliza”, reclama a vendedora. Técnico lamenta mau uso de pesticidas O técnico agrícola Moacir Paulino Souza é também produtor e afirma que grande parte dos equívocos cometidos na utilização dos agrotóxicos se deve à falta de conhecimento e mesmo de orientação técnica de uma parcela dos agricultores. Muitos não sabem quando, ou quanto, devem aplicar de cada produto, o que acaba resultando na concentração excessiva dessas substâncias em alguns alimentos. Para ele, a utilização de agrotóxicos na produção agrícola é hoje imprescindível, por isso o importante é controlar esse uso. “A incidência de pragas é muito grande”, revela o técnico. Diante da proliferação das pestes, muitos produtores não sabem como agir e terminam tentando resolver tudo por conta própria, sem o auxílio técnico necessário. “E o uso adequado de agrotóxicos também é fundamental para economizarmos, já que eles são caros e oneram muito a produção, aumentando nossa despesa”, revela, citando mais um motivo para o uso “consciente” dessas substâncias. Levantamento inclui produtos mais consumidos Os cinco alimentos avaliados por Maxson Janailson, com orientação da professora Everlane Ferreira, não foram escolhidos ao acaso. Antes mesmo das análises em laboratório, realizadas na Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte (Farn) e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), foi promovido um levantamento de quais seriam as frutas e hortaliças mais consumidas na capital potiguar. Com a lista em mãos, o pesquisador reuniu dois quilos de cada um dos alimentos, comprados em diversos pontos da Central de Abastecimento, a Ceasa. Metade dessa quantidade passava por uma higienização, antes de ser testada e o restante era analisado da forma como foi adquirido. A idéia de Maxson Janailson é ampliar futuramente o estudo, tanto abrangendo novas áreas dentro do Estado, como também ampliando os tipos de frutas e hortaliças. Uma outra possibilidade é a de aumentar a quantidade de agrotóxicos analisados. Isso porque o fato de a pesquisa ter se limitado aos três produtos (devido a um critério de solubilidade) não significa que os alimentos estejam livres de alta concentração de outros pesticidas. “É provável que haja outros contaminantes também”, acredita o pesquisador.

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