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Ubirajara Galvão
11.01.2005

Ubirajara Galvão será sempre um nome de referência na arquitetura do Rio Grande do Norte. Seus projetos se destacam no universo das construções de Natal, sejam prédios residenciais, sejam edificações destinadas a outras finalidades. Felizes os que podem ou puderam habitar qualquer ambiente por ele criado, pois vivem ou viveram, cotidianamente, com a visão beneficiada pela estética e com o bem-estar propiciado pela funcionalidade. No início da década de 80, estava eu identificando um arquiteto para projetar a casa que sonhara para a minha família. Resolvi, então, procurar Ubirajara Galvão, tendo, primeiro, de vencer o receio de que os recursos disponíveis não fossem suficientes, porquanto dizia-se ser de elevados custos as construções dos seus projetos. Nosso conhecimento recíproco era superficial e, logo na primeira visita ao seu escritório, impressionou-me a elegância da recepção, além da segurança que passou quanto ao perfeito entendimento das expectativas do cliente. Nas conversas subseqüentes, permaneceram os gestos de cortesia e simplicidade, bem como as evidências de elevado profissionalismo, competência e rara capacidade criativa. O tabu quanto aos custos foi desfeito, a casa foi construída e, graças a Deus, há mais de 20 anos desfruto, com a minha família, as benesses de um ambiente acolhedor, bonito e sóbrio, que a mente privilegiada de um arquiteto foi capaz de criar. Certa vez, ao lhe transmitir essas impressões, ele sorriu e, com sua característica simpatia, disse: “Que bom...! Fico feliz com isso”. Estando no exercício do cargo de Reitor da UFRN, poucos anos depois, quando decidi pela edificação de um novo prédio para a Escola de Música, outro nome não me veio à lembrança: convidei Ubirajara Galvão para desenvolver o projeto arquitetônico. Conhecendo-o, não temi o fato da não existência de remuneração adicional, pois o vínculo empregatício com a UFRN e a sua motivação já seriam suficientes para garantir o total empenho na tarefa. Mais uma vez, deparei-me com um profissional brilhante, sensível, aberto ao diálogo e convicto dos seus princípios. Ouviu a todos: o Reitor, a Diretora da Escola, Profª. Maria Eugênia, os professores de música, os funcionários, e passou a desenvolver um maravilhoso projeto, que se transformou no melhor edifício de Escolas de Música do Brasil. Elaborou esse trabalho com grande amor, feliz por saber que destinava a sua arte em prol da arte. A UFRN tem o dever de cuidar e preservar essa obra arquitetônica, não permitindo que se desfigurem seus traços e detalhes originais, até como homenagem à memória do seu genial criador. Ubirajara Galvão, há poucos dias, ultrapassou a porta da imortalidade, por onde todos nós haveremos de passar. Duas pessoas com esmerados dotes artísticos, ele e Marlene Galvão se completavam. Agora, o belo e simpático casal continuará na lembrança emocional dos amigos; Marlene e a família haverão de encontrar forças para suportar a imensa dor e vencer esse momento crucial de suas vidas. Natal perdeu um ser humano de extraordinário valor. Não somente o arquiteto exponencial, o artista de grande sensibilidade, o esteta, mas também o cidadão correto, íntegro, o homem afável, cordial, de fina educação, solidário, de gestos largos de simpatia. Que Deus o tenha no lugar que ele bem merece, certamente, reservado aos bons.