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Viva a Xanana !
04.12.2005
Que mal fizeram as pobrezinhas das xananas? Teimam em brindar os olhos dos natalenses, nas manhãs ensolaradas, com suas pétalas singelas, mas cheias de significação estética, característica das coisas simples da natureza. Teimam, também, alguns setores burocráticos em decretar a morte das plantinhas inocentes, ceifadas impiedosamente por enxadas nas mãos de operários que “não sabem o que fazem” e, por isso, estão perdoados.
Ficam lindos os canteiros das ruas de Natal quando floridos de xananas, com suas alegrias ingênuas. Parece até que sorriem para seus admiradores, em gesto de interação que somente a energia da natureza pode propiciar. Todavia, por decisão equivocada, a florzinha simples, popular, que não é encontrada nos jardins dispendiosos, que não alumbra os ambientes luxuosos, deve ser eliminada totalmente dos recantos públicos da cidade, pois carece de “pedigree” e, assim, não merece estar em lugar algum de destaque, incomoda, é mato desnecessário e intrometido. Entretanto, o correto seria privilegiar o encantamento para os olhos e o deleite para o espírito trazidos pela floração nativa das ruas da cidade. Faz parte da nossa identidade a graça telúrica de formas e cores que se vêem nas pétalas desses frágeis arbustos.
O homem continua a agredir a natureza em escala mundial. Sabe-se que o aquecimento global, causador de enchentes, secas, tornados, furacões e outros eventos dramáticos são decorrentes de ambições econômicas, que alteram o efeito estufa, pela liberação exagerada de CO2. Conduzido por desinformação ou insensibilidade, o homem também agride a natureza em escalas menores, mas que não deixam de ter significado. É o caso da devastação da população das xananas de Natal, varridas por verdadeiros tornados e furacões, nascidos nos ágeis acionamentos de gumes afiados e implacáveis.
Escrevemos esta página com o sentimento de inconformação pelas cenas que presenciamos, há pouco tempo, apenas um retrato do que ocorre rotineiramente. Passávamos pela Av. Romualdo Galvão, próximo à Praça Augusto Leite, deliciados pela visão das belas florzinhas brancas e amarelas, e o verde das folhas, cobrindo o largo canteiro da rua. No dia seguinte, homens “armados” de enxadas cumpriam as ordens da execução sumária dos seres de Deus. No terceiro dia, a monotonia da terra nua dos canteiros era quebrada somente por diversos pequenos amontoados de areia e plantas mortas, evocando a imagem triste de um cemitério.
Nos dicionários encontramos chanana, mas os poetas preferem xanana. Dizem ter mais charme, escrita com x. Sigamos os poetas, pois eles têm percepções que os simples mortais não têm. Seja com que grafia for, apelamos ao Poder Público municipal, à frente um homem sensível à preservação das belezas da cidade, para que se revogue a lei que decreta a morte da “Flor do Natal.” Agradeçamos a dádiva que nos concede a Mãe Natureza: “Viva a xanana!".
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