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Volto a escrever sobre o livro "Autobiografia: o mundo de ontem", de Stefan Zweig. Ao comentar sobre uma boa leitura, ele mesmo assim se expressa: "Só um livro que a cada folha mantém o ritmo e arrebata o leitor até a última página me proporciona um deleite completo". Uso a mesma frase em relação a esse seu livro, um relato comovente da sua vida, desde os tempos de jovem em Viena até o exílio – o último – no Brasil. Com uma prosa fluida, sonora e de fortes emoções, ele traça um retrato nítido da Europa do seu tempo e dos contornos sociopolíticos que a envolveram. E traz à luz seu próprio drama existencial: um humanista puro, um pacifista convicto, a viver em uma época tumultuada da história, com duas grandes guerras, quando sua querida pátria, a Áustria, foi uma das principais vítimas do nazismo. Judeu de origem, viu sua ampla obra intelectual, uma das mais aplaudidas nos maiores centros culturais da terra, ser objeto de desprezo colérico, a ponto de seus livros virarem fogueira em plena praça pública.
Para nós brasileiros, honra-nos a escolha que ele fez pelo nosso país como seu último exílio, que se transformou na sua última morada, pois os restos mortais dele e da sua esposa Lotte repousam no cemitério central de Petrópolis, RJ. Uma mensagem de Zweig, na qual fala do suicídio, mostra seu apreço ao nosso país: "Antes de deixar a vida, de livre vontade e juízo perfeito, uma última obrigação se me impõe: agradecer do mais íntimo a este maravilhoso país, o Brasil, que me propiciou a mim e à minha obra tão boa e hospitaleira guarida".
Zweig ressalta seus encontros e contatos com grandes escritores, em especial com outro pacifista convicto, Romain Roland, Prêmio Nobel de Literatura 1915. Entre outros famosos escritores contemporâneos, ele destaca Rilke, Joyce, Górki e Freud. Vinte e cinco anos mais novo do que Sigmund Freud, ambos austríacos e judeus, foram amigos e leitores mútuos. No livro "Freud com os escritores", dos escritores J.B. Pontalis e Edmundo Mango – 2013 –, Stefan Zweig consta como um dos autores preferidos pelo "pai da Psicanálise", na sua busca de estudar a alma humana e os conflitos psíquicos. Sobre esse tema escrevi texto e publiquei nesta Tribuna do Norte, em 2014, com o título "Freud com os escritores", o qual compõe o livro de crônicas Retratos da Vida, de minha autoria, lançado em dezembro de 2015.
Em 1934, Stefan Zweig, prevendo os horrores do nazismo, mudou-se para Londres, forçado a deixar para trás sua morada dos sonhos, em Salzburgo, e o seu amado país. Em Londres, mesmo com um estilo de vida restrito, preservou o que lhe era mais caro, a liberdade individual. E sentiu uma grande alegria, quando soube que o seu amigo Freud – "o mais venerado dos meus amigos" – havia chegado à cidade, levado pelas mãos da fiel discípula Maria Bonaparte, a fim de o livrar das forças de Hitler. Zweig foi um grande admirador de Freud, inclusive da sua coragem na defesa das suas teses, a enfrentar os desafetos, aqueles adeptos da "maneira velha de pensar". O fundador da Psicanálise morreu aos 83 anos e viveu somente alguns meses no seu exílio em Londres. Sobre as honras póstumas que lhe foram prestadas, Stefan Zweig escreveu: "E quando nós, seus amigos, baixamos seu ataúde, sabíamos que estávamos dando ao solo inglês o melhor da nossa pátria".
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
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